‘Filhos da Terra’: Conheça Neurilene, a guerreira do Povoado de Estiva que valoriza a família e as raízes maranhenses
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‘Filhos da Terra’: Conheça Neurilene, a guerreira do Povoado de Estiva que valoriza a família e as raízes maranhenses

A nossa série de entrevistas “Filhos da Terra” mostra como os moradores dos Povoados de Estiva, Baixa da Madeira e Ponta de Faca têm amor pela sua história e orgulho de poder ajudar no crescimento da região. É este o caso de Neurilene Pereira Sousa da Silva, de 40 anos, que com um jeito leve de falar e voz amorosa, contou sua história de luta, mas que apesar dos desafios, nunca desistiu, e que, mesmo morando longe, vem com grandes projetos para os povoados.

Casada e com dois filhos, Neurilene nasceu no Povoado de Estiva e seus pais se mudaram para o Povoado Bom Gosto para oferecer melhores estudos aos filhos.

Desde cedo ela teve que conciliar os estudos com o trabalho depois que o seu pai precisou ficar um ano na capital em virtude de uma cirurgia no apêndice. Assim, neste período, Neurilene e alguns irmãos mais jovens ajudavam a mãe na roça de mandioca e vendiam o produto em outros povoados.

Já mais velha, Neurilene foi morar em outra cidade, onde, em 1999, casou-se, e, anos posteriores foi morar em Goiás, em virtude do trabalho do marido. Entretanto, como ela diz, vida de nordestino é ir e voltar para a terra natal, e com ela não foi diferente.

“Depois de um ano morando em Goiás, voltamos para o Maranhão. Em 2010, fui para o Rio de Janeiro, onde ajudava na renda de casa vendendo lingerie. Mas, como a região sofria por enchentes, resolvemos voltar para nosso estado. Três anos depois, fomos morar em Santa Catarina e por lá fiquei trabalhando com meu marido. Mesmo neste vai e vem, nunca deixei de colocar os meus filhos na escola, pois para mim a educação era primordial”

E quem pensa que a jornada de Neurilene parava por aí, está enganado. Em 2014, a família retornou para o Maranhão, mas no mesmo ano seu esposo foi chamado para trabalhar em Porto Alegre. E lá vai ela em mais uma empreitada pelo Brasil.

Como a saudade era grande pelos filhos que ficaram por aqui, Neurilene retornou em um mês, mas sabia que a região sul iria lhe proporcionar melhor condição de vida. Assim, a família se mudou para Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, onde mora até hoje.

Neurilene atua na área de logística em uma multinacional de farmácia e está fazendo o Curso de Bombeiro Civil, onde tem como objetivo trabalhar dentro da área, adquirindo conhecimento que pretende levar para a população do seu povoado.

Além disso, ela é líder de uma ocupação indígena de Passo Fundo, atuando na busca de doação e auxiliando em projetos sociais em favor das mulheres e da causa animal.

Para Neurilene, falta incentivo público para ajudar no crescimento dos povoados de sua terra natal e seu amor pela região vem motivando seu retorno para a região com a finalidade de ajudar.

“O governo poderia olhar para os problemas do povo, valorizando a educação, por ampliar projetos, como escola com computadores, bons profissionais e estrutura. Também, dar atenção na saúde que é carente. Isso sem falar da nossa estrada que faz a interligação entre os povoados, que dará maior acesso à população”

Sobre a importância da Associação dos Moradores, Neurilene vem atuando em um projeto para alavancar o turismo. E segundo ela, isso terá resultado com a participação de todos.

“As pessoas têm que manter a união junto à Associação, acreditando que vai acontecer, com melhorias para o nosso povoado, todos unidos em um só propósito. A importância da associação é no sentido de termos uma referência. Se a gente tem a associação como uma frente, os projetos são levados a sério. É o guia dentro do povoado. Tenho alguns projetos, temos esse ligado ao turismo, com o objetivo de mostrar ao mundo o que nossa comunidade tem, gerando emprego e renda”

E não para por aí! Neurilene também pretende retornar ao povoado em breve e aplicar um projeto social que irá contemplar os idosos, adolescentes e mulheres, ambos os grupos mais excluídos pela sociedade.

“Mesmo de longe, estou dando apoio e quero muito que a minha população venha a crescer. Meus filhos já estão casados e tenho um projeto de retornar para a minha terra. É preciso que a gente avance e que nossa história não seja contada só nas redes sociais, mas que sirva de incentivo para outras gerações”.

Este é mais um exemplo de “Filhos da Terra”, de como pessoas que nasceram em nossos povoados ainda sentem amor e vontade de fazer essa região crescer, mesmo estando longe.

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