Filhos da Terra’: da infância pobre para a vida militar e recheada de estudos. Conheça a história do Sargento Francisco Castro, do Corpo de Bombeiros

Nossa série de histórias “Filhos da Terra” foi criada para valorizar grandes nomes dos nossos povoados e mostrar que, apesar das dificuldades enfrentadas durante a infância, essas pessoas não desistiram e hoje são referências para a nova geração.

Este é o caso do 1° Sargento do Corpo de Bombeiros, Francisco das Chagas de Castro Silva, que aos 51, contou toda a sua trajetória de vida e lutas na infância pobre, mas que sempre colocou o estudo em primeiro lugar.

Natural do Povoado de Estiva, o Sargento Francisco Castro já começa nossa conversa falando sobre os desafios da época, onde não existia energia elétrica e a iluminação era feita pela lamparina ou nas noites de luar.

Mas, isso nunca impediu o Sargento Francisco de ir à escola, mesmo tendo que conciliar o tempo de estudo com o trabalho na roça familiar.

“Levantávamos cedo para irmos para a escola que funcionava de início em uma sala na casa do Sr. José Ramos, tendo como professora a Sra. Nicinha. No horário da tarde, íamos para os trabalhos na roça com nosso pai. Além da escola e da roça, também íamos pescar, tirar caranguejos, pegar siri e ostras para nossa alimentação. Os produtos da roça eram levados para vender na cidade de Tutóia e com a renda comprávamos os mantimentos para o sustento da família”

Com o tempo, o Sargento Francisco Castro precisou ir estudar em Tutoia, onde após terminar a 8ª série, no ano de 1990, se mudou para a capital São Luís. Lá, ele fez o 2º Grau Técnico em Contabilidade, mas como morava de favores, precisou trabalhar como Ajudante de Pedreiro, Auxiliar de Serviços Gerais, Auxiliar de Almoxarifado, Entregador de Mercadorias etc.

“Diante destas situações difíceis, nunca esquecia dos conselhos de mamãe, Dona Mariazinha, que nos orientava para nunca deixar de estudar. Sua voz nos deu força para seguir a caminhada”

No início do ano de 1992, enquanto cursava a 3ª série do antigo 2º Grau, foi aprovado no primeiro concurso público para servidores do Estado do Maranhão, o que ele considera o primeiro passo para a liberdade.

“Em 1994 prestei novamente mais dois concursos públicos, um para o TRT – Tribunal Regional do Trabalho e outro para o cargo de Soldado do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Maranhão. Consegui aprovação dos dois, sendo que assumir a função no Corpo de Bombeiros onde me encontro até aos dias de hoje, já na graduação de Primeiro Sargento”

Já com uma profissão, nos anos seguintes ele se casou com Rosângela Lopes e teve dois filhos. Mas, quem pensa que os estudos pararam, está enganado!

Com o lema de que os estudos é a mola para o conhecimento e a liberdade, não só financeira, como também do pensar, o Sargento Francisco Castro participou do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio e conseguiu uma bela nota acima da média nacional aferida pelo INEP, obtendo uma bolsa de estudos integral em várias faculdades de ensino superior na capital maranhense. Assim, ele resolveu cursar graduação em Ciências Contábeis na FAMA – Faculdade Atenas Maranhense. Ou seja, hoje, além da profissão de Bombeiro Militar, Francisco trabalha também como Contador.

Questionado sobre o que acredita que possa ser mudado dentro do povoado, Sargento Francisco Castro é bem claro ao dizer que, se tratando das pessoas, o comportamento e o entendimento de que as ações vindas do poder público não são um favor é a primeira coisa que a pessoa precisa saber. “Isso é uma obrigação, um dever para com a comunidade”

E quem vive próximo da população pode dizer com mais clareza quais as necessidades maiores neste momento. E o Sargento Francisco Castro lista aquelas que considera mais importantes:

• Posto de saúde nos três povoados para ocorrências dos primeiros socorros em casos de acidentes, mal-estar súbito etc.;
• Melhorias e manutenção das estradas de acesso aos povoados Estiva, Baixa da Madeira e Ponta de Faca.
• Distribuição e Manutenção da iluminação pública, pois os povoados vivem às escuras ou em “gambiarras” que oferecem um grande risco de choque elétrico para as pessoas;
• Falta de manutenção da estrutura física da caixa d’água e a distribuição que não atende adequadamente todas as casas do povoado Estiva;
• Construção de uma praça aparelhada com equipamentos de educação física no largo entre a escola Joaquim Veras e a Igreja Católica, sendo uma opção de lazer.

Sobre os projetos que gostaria que fossem aplicados junto à Associação, o Sargento Francisco Castro diz que, como bombeiro militar, um deles está ligado na área de segurança e acidentes domésticos com fogo, principalmente em residências com o manuseio correto do gás de cozinha. Ele espera que sejam criadas ações que possam levar conhecimento sobre o assunto para a população, evitando tragédias dentro de casa, evitando queimaduras e a propagação deste fogo.

É a participação ativa destas pessoas importantes da nossa região que fazem a diferença no crescimento da AMOPPE e servem de incentivo para as novas gerações.